Dalla "Laudato Sì" a "Querida Amazônia", il prima e il dopo
Un anno dedicato alla Enciclica e alla cura della casa comune
Antonella Rita Roscilli
TESTO IN ITALIANO   (Texto em português)

-------------------------------------------------------------------------------


TEXTO EM PORTUGUÊS   (Testo in italiano)


Da "Laudato sì" até a Exortação Apostólica "Querida Amazônia", antes e depois.

Um ano dedicado à Encíclica e ao cuidado da casa comum.

por
Antonella Rita Roscilli
                                                            

"A Semana Laudato sì que acabamos de celebrar, florescerá em um Ano especial de aniversário da Laudato sì, um ano especial para refletir sobre a encíclica, de 24 de maio deste ano até 24 de maio do próximo ano, graças à iniciativa do Dicastério para o Serviço Integral de Desenvolvimento Humano. Convido todas as pessoas de boa vontade a se unirem, a cuidar da nossa casa comum e de  nossos irmãos e irmãs mais frágeis": assim disse Papa Francisco, falando sobre a iniciativa realizada de 16 a 24 de maio, para depois anunciar um ano especial, em que a reflexão se transformará em ação concreta.
 
"Tudo está interligado" foi o tema de 2020 escolhido para celebrar a Semana Laudato sì, e juntou pessoas preocupadas para com uma sociedade melhor e o cuidado pela Criação, atravessada  por uma emergência ambiental sem precedentes. Patrocinada pelo Dicastério para o Serviço Integral de Desenvolvimento Humano, foi liderada por um grupo de parceiros católicos, incluindo o Movimento Católico Global pelo Clima (MCGM). Reuniu mais de 2.000 pessoas do mundo inteiro, muitas foram as iniciativas locais na web, programadas desde Manila até o México.
 
A Semana comemorou o quinto aniversário de "Laudato sì: carta encíclica sobre o cuidado da casa comum", escrita pelo Papa Francisco. O título e as palavras de abertura são retirados do Cântico das Criaturas de São Francisco d'Assis, o texto poético mais antigo em italiano, e que tenha o autor conhecido. "Acredito que Francisco é o exemplo por excelência da cura para os mais frágeis e exemplo de uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade" (L.S. 10).
 
Composta por seis capítulos e uma importante introdução, a Encíclica é documento de profunda beleza cuja leitura é fonte inesgotável de reflexão, temáticas e espiritualidade. O tópico principal é a interconexão entre a crise ambiental e a crise da humanidade, para uma ecologia integral e uma conversão ecológica. O Papa Francisco sempre especificou que "não é uma encíclica verde, mas uma encíclica social". Nela encontramos o Grito da Terra e o Grito dos Pobres, as periferias que se tornam centro, a opção pelos pobres e os "descartados", a visão do discernimento. Era o ano de 2015 quando foi publicada a "Laudato sì".
 
Um ano antes nasceu a REPAM-Rede Eclesial Pan-Amazônica, composta pelos 9 países da região pan-amazônica. Seu caráter é o transnacional, o eclesial, o empenho pela proteção da vida. A REPAM é concebida como uma ferramenta dinâmica que opera em diferentes áreas, quais a justiça, a legalidade, a promoção dos direitos humanos, a cooperação entre a Igreja e instituições públicas em vários níveis; prevenção e gerenciamento de conflitos; o estudo e divulgação de informações; o programa econômico inclusivo e justo; o uso responsável e solidário de recursos naturais, respeitando a Criação; a preservação das culturas e das tradições dos povos indígenas, ribeirinhos, os mais vulneráveis que habitam o imenso território da Pan-Amazônia.
 
A Pan-Amazônia ocupa uma área de 6.7 milhões de quilômetros quadrados, com uma biodiversidade muito rica e 34 milhões de habitantes, dos quais mais de 3 milhões pertencem a 390 povos originais, e 137 deles vivem em isolamento voluntario ou sem contatos externos. Falam 240 idiomas pertencentes a 49 famílias lingüísticas. Essa vasta região é compartilhada por nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.  
Conforme Carlos Nobre, climatologista brasileiro e Prêmio Nobel pela Paz  "a floresta amazônica é o coração biológico da Terra. Nós humanos não podemos viver sem o coração, da mesma forma que o planeta, pelo menos o planeta que conhecemos, não pode viver sem a Amazônia. " A Pan-Amazônia é, portanto, uma das partes essenciais do planeta que é nossa casa comum. Tornou-se um verdadeiro paradigma para a Igreja e para o mundo, símbolo e reflexo da necessidade de transformar algumas estruturas, para que voltem às suas razões originais de existência, fiéis ao apelo eclesial e civil.
 
O processo histórico que chegou até a Encíclica Laudato sì e ao Sínodo Pan-Amazônico vem de muito longe. Trata-se de um percurso que não foi costruido nos ultimos ano, e sò por uma voz, mas por várias vozes. Não podemos esquecer que todos os papas que antecederam Papa Francisco acolheram estes discursos no seu próprio magisterio. O processo começa a partir do Concílio Vaticano II, das palavras dirigidas à Amazônia e seus povos pronunciadas por Paulo VI, por João Paulo II, por Bento XVI, o CELAM e os encontros como o de Medellín em 1968, com o importantíssimo Documento de Santarém em 1972, com a fundação do CIMI-Conselho indigenista Missionario, com Puebla em 1979, Aparecida em 2007 etc. E foi também gerado pelo clamor provindo das bases, comunidades ecleciais de base, as pastorais, o desenvolvimento das organizaçoes de representancias indigenas etc. Um modelo de comunicação que levou a um processo de abertura, ao maior conhecimento do outro, ao dialogo intercultural, ao empenho social e ao reconhecimento reciproco.
 
A partir disso, e da "Laudato sì", do encontro de 2018 em Puerto Maldonado (Perù), o Conselho pré-sinodal e a preciosa colaboração da REPAM, nasceu em 2019 o Sínodo, a Assembléia Especial para a Região Pan-Amazônica sobre o tema "Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral". Aconteceu de 6 até 27 de outubro de 2019. Entre os participantes estavam 185 padres sinodais, 25 especialistas, 55 ouvintes, 16 representantes de diferentes povos originais. Durante vinte e um dias, a periferia do mundo tornou-se o centro a ser finalmente ouvido. Por meio de reuniões, círculos menores, conferencias, propostas e mais de 170 eventos paralelos organizados por  "Amazônia Casa Comum", ouvimos o Grito da Terra, o Grito dos pobres, o Grito dos povos ameaçados, representados pelos líderes indígenas: mulheres e homens com sabedoria ancestral, que com dignidade e coragem enfrentam tragédias diárias. Lideranças  indigenas, mulheres,  ecologistas, cientistas, sentaram juntos com cardeais da curia romana, com presidentes das conferencias episcopais, bispos da região Amazônica, para juntos fazer esse caminho sinodal, caminhar juntos, com momento de escuta, momento de discernimento, como propunha fazer o Papa Francisco. Ouvimos homens e mulheres, missionários, leigos, que cumprem heroicamente a missão de uma Igreja em saída, dia após dia, de acordo com os ensinamentos do Evangelho: muitos foram os mártires, mas as raízes permanecem firmes e fortes.
 
Dentro das temáticas abordadas pelo Sínodo Pan-Amazônico estão a Igreja em saída, a Ecologia integral pelo Bem Comum, o cuidado pela criação e pelo ser humano, porque "tudo está interligado", ou seja tudo está interconectado. Conforme o card. Lorenzo Baldisseri: "Em seu discurso de encerramento do Sínodo, o Papa recolheu os frutos da Assembléia, colocando-os em quatro diagnósticos: o cultural, que inclui a inculturação e a interculturalidade nos povos da Amazônia; o ecológico, sob uma perspectiva integral que atenda à denúncia da destruição da Criação, onde a Amazônia é um exemplo importante; o  social, que implica não apenas a exploração do planeta, mas a proclamação do Evangelho é urgente, mas o importante é que seja ouvido e compreendido pelas diferentes culturas da terra amazônica".
 
A grande obra do Sínodo se deu na redação de dois documentos. O primeiro è o Documento final do Sinodo, aprovado pela grande maioria, e tornou-se público no dia 28 de outubro de 2019. O Documento não tem carater deliberativo, mas é uma contribuicão do discernimento como fruto daquela discussão e reflessão feitas pelos padres sinodais. A palavra chave do Documento final è "conversão", um chamado à conversão configurada em forma de conversão pastoral, cultural, ecologica e sinodal.
 
O segundo documento nasce da reflessão do Papa Francisco sobre o Sinodo e è emblematico já no titulo: "Querida Amazônia".  Nesta Exortação apostólica ele expressa todo seu amor, preocupação e cuidado pela Amazonia. Foi apresentada à imprensa em 12 de fevereiro de 2020. Com suas quarenta páginas traduzidas em seis idiomas, provém da "Laudato sì" e expressa o caráter que o Papa atribui à Igreja. A Amazônia è um ser vivo que sofre junto com seus povos originais, mas também é um símbolo. Escutar o Grito pode ajudar a realizar uma conversão integral, porque mostra como está sendo tratada a Terra, cuja sacralidade  está interligada à sacralidade do ser humano. Normalmente a exortaçao apostolica substitui o documento final que fica um documento ultrapassado. Nesse caso a  Exortação apostolica reafirma o documento final e por isso è preciso ler tanto o Documento final quanto a Exortação apostólica.  
 
O card. Michael Czerny, S.I., Sotto-Segretario della Sezione Migranti e Rifugiati del Dicastero per il Servizio dello Sviluppo Umano Integrale, Segretario Speciale del Sinodo dei Vescovi per la Regione Panamazzonica, explica que "o documento conclusivo è o resultado do caminho sinodal, a Exortação contém reflexões sobre o caminho sinodal e o documento conclusivo. O primeiro, que contém as propostas apresentadas e votadas pelo padres sinodais, è um documento sinodal conclusivo. O segundo è o reflexo do inteiro caminho e seu documento conclusivo tem a autoridade do magistério ordinário do sucessor de Pedro".
 
O documento é composto de quatro capítulos, cada um dedicado a um sonho que coincide com o tema da conversão. "Sonho com uma Amazônia lutando pelos direitos dos mais pobres, dos povos originais, dos últimos, onde sua voz é ouvida e sua dignidade é promovida. Sonho com uma Amazônia que defende e preserva a riqueza cultural que a distingue, onde a beleza humana brilha de várias formas. Sonho com uma Amazônia que protege a sua irresistível beleza natural, a vida transbordante que enche seus rios e florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se encarnar na Amazônia , a ponto de dar à Igreja novos rostos com características amazônicas"(QA, 7). No capítulo I (Sonho social), destaca-se que "é sempre possível superar as diferentes mentalidades coloniais para construir redes de solidariedade e desenvolvimento, e lembra as palavras de João Paulo II no Dia Mundial da Paz de 1998: "O desafio é garantir uma globalização solidária, uma globalização sem marginalização"(Q.A., 17).
 
Papa Francisco pede perdão, como já fez na Bolívia em 2015, "não apenas pelos delitos da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos indígenas durante a assim chamada conquista da América, e pelos crimes que se seguiram ao longo da história da Amazônia. Agradeço aos membros dos povos originários e digo novamente: Você com a sua vida é um grito dirigido à consciência [...]. Você é uma lembrança viva da missão que Deus entregou a todos nós: cuidar da Casa Comum"(Q.A., Cap. I, 19).
 
No capítulo II (Sonho cultural) nos lembra que o significado do melhor trabalho educacional é "cultivar sem desenraizar; crescer sem enfraquecer a identidade; promover sem invadir. Como existem potenciais na natureza que podem ser perdidos para sempre, o mesmo pode acontecer com culturas que carregam uma mensagem que ainda não foi ouvida, e que hoje estão sendo ameaçadas como nunca antes". (QA 28). No capítulo III (sonho ecológico destaca que na região Pan-Amazônica, as palavras de Bento XVI, pronunciadas durante o Dia Mundial da Paz de 2007, se compreendem ainda melhor: "Além da ecologia da natureza, existe uma ecologia que poderíamos dizer humana, que por sua vez requer uma ecologia social. Isso implica que a humanidade [...] deve ter cada vez mais presentes as conexões existentes entre a ecologia natural, que é o respeito à natureza e a ecologia humana".
 
Papa Francisco continua: "O fato de insistir no fato de que tudo está interligado se aplica de maneira especial a um território como a Amazônia. Se os cuidados com as pessoas e os ecossistemas são inseparáveis, isso se torna particularmente significativo, pois a floresta não é um recurso a ser explorado, mas um ser ou vários seres com os quais se relacionar. A sabedoria dos povos originários da Amazônia inspira cuidado e respeito à criação, com uma clara consciência de seus limites, proibindo seus abusos. Abusar da natureza significa abusar dos antepassados, de irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro"(QA, 41-42). No capítulo IV (sonho eclesial), ele lembra que o caminho da Igreja na América Latina teve expressões privilegiadas na Conferência Episcopal de Medellín (1968), em Santarém (1972), em Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), mas "o caminho continua e, se você deseja desenvolver um Igreja com rosto amazônico, a tarefa missionária deve se desenvolver em uma cultura de encontro em direção a uma harmonia pluriforme "(Q.A., 61).
 
Por isso, convida a aprofundar o processo de inculturação, pois "um mito carregado de senso espiritual pode ser valorizado e nem sempre pode ser considerado um erro pagão. [...] Um verdadeiro missionário tenta descobrir que tipo de aspirações legítimas passam por manifestações religiosas, às vezes imperfeitas, parciais ou erradas, e tenta responder a partir de uma espiritualidade inculturada"(Q.A., 79). Mas "os desafios da Amazônia exigem que a Igreja alcance uma presença generalizada que só é possível através de um protagonismo incisivo dos leigos "(QA, 94) e das mulheres "que de fato desempenham um papel central nas comunidades amazônicas. [...] Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja em pé nesses lugares com dedicação admirável e fé ardente. Ela mesmas durante o Sínodo, comoveram todos nós com seus testemunhos"(Q.A., 103).
 
Conforme P. Adelson Araújo dos Santos S.I., teólogo e professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, os quatro sonhos devem ser vistos de forma correlata, "porque mesmo nos sonhos tudo está interligado. Em cada sonho compartilhado pelo Papa, é possível reconhecer o chamado à uma conversão que os padres sinodais formularam  no documento final do Sínodo, tanto que, em seu sonho social vemos o chamado para uma conversão integral, em seu sonho cultural vemos o chamado para uma conversão cultural, em seu sonho ecológico somos chamados a uma conversão ecológica, e em seu sonho eclesial há elementos de uma conversão pastoral e sinodal".
 
Papa Francisco coloca seu infinito amor cristão, em um lugar simbólico esquecido por muitos  a partir de lá se abre para toda a realidade. "Já o titulo em si é um verdadeiro ato de amor", nos lembra Suor Augusta de Oliveira, Vicaria generale Serve Maria Riparatrice: "O Papa nos convida a ter esperança, e abre caminhos de continuidade para o processo sinodal que se deu em Roma. Querida significa Amada e, neste adjetivo, o Santo Padre coloca toda a sua proximidade, seu carinho, seus sonhos".
 
E se sabe que os sonhos também expressam desejos e esperanças. "Querida Amazônia" nos convida a retomar temáticas que falam do respeito para com outras regiões da Terra, convida a nos comprometer enquanto pessoas de boa vontade e enquanto batizadas. É assim que chegou um tempo especial, o tempo de Kairos, o tempo de ouvir o Grito sem separar a abordagem ecológica da abordagem social. Embora a Amazônia esteja enfrentando um desastre ecológico, deve-se notar que "uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nas discussões sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o grito da terra quanto o grito dos pobres. Não precisamos de um conservadorismo que se preocupe com o bioma, mas ignore os povos da Amazônia. O sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos seus habitantes, para que eles possam consolidar um bom viver"(Q.A., Cap. I, 8).
 
Na Exortação por sete vezes ressoa o convite à Contemplação, e a um "olhar estético", aprendendo particularmente dos povos originais a ter um olhar diferente, ou seja, não considerando a Amazônia apenas como um caso a ser analisado ou uma temática em que se engajar. "Podemos nos sentir intimamente unidos a ela e não apenas defendê-la, assim ela se tornará nossa como fosse uma mãe. Por essas razões, nós, crentes, encontramos na Amazônia um lugar teológico, um espaço onde o próprio Deus se manifesta e chama seus filhos" (Q.A. Cap III, 55). Esse olhar só pode provir da coragem do Amor, que é também a da Esperança para a maior obra de Deus, na qual se encontra a imensa complexidade de nossas muitas "Amazônias", porque os povos originais não podem viver sem a floresta e o rio, mas todos nós, na realidade, não podemos viver sem o cuidado da Criação, porque nossa própria respiração depende disso. 
 
O processo sinodal continua e de fato o Sínodo panamazônico serve como modelo, uma verdadeira escola de escuta ativa, de interculturalidade, de inculturação e para recuperar o significado das varias manifestações de Deus. As mudanças na Igreja e nas estruturas sociais devem provir da Amazônia e de muitas outras "periferias", pois está em jogo a vida dos povos, das comunidades, dos ecossistemas e do planeta. Papa Francisco não anuncia decisões, e deixa o desenvolvimento das idéias expostas para o caminho sinodal que não termina com o documento final do Sínodo, nem com a publicação da Exortação Apostólica. Desta ultima gostaríamos destacar o lado poético dela, marcada por dezesseis textos curtos de escritores sul-americanos, cujos versos brilham alto e se tornam verdadeiros cantos de dor como também de esperança:

Do rio, fazes o teu sangue (… ).
Depois planta-te,
germina e cresce
que tua raiz
se agarre à terra
mais e mais para sempre
e, por último,
sê canoa,
barco, jangada,
solo, jarra,
estábulo e homem.
(Javier Yglesias- Q.A., Cap. II, 31).




© SARAPEGBE.                                                          
E’ vietata la riproduzione, anche parziale, dei testi pubblicati nella rivista senza l’esplicita autorizzazione della Direzione